quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O contra-ataque do porco

Nenhum setor da indústria catarinense (e consequentemente as grandes fortunas) mudou tanto nos últimos anos como o da indústria de alimentos, no oeste do Estado, que tanto orgulho nos deu a partir dos anos 50, com a produção de carne processada, vendida para todo o Brasil e para o mundo a partir dos anos 50, a partir de empresas familiares. Mas a mudança principal no setor, que concentra muito do PIB catarinense, emprega milhares de pessoas e movimenta milhões de dólares, está sendo cobrada e sentida pela população consumidora de carne. Preocupados com a saúde e com a responsabilidade social, os consumidores cada vez mais querem saber de onde vem os alimentos que consomem, e se a produção deles traz danos ao meio ambiente. E neste campo a indústria de alimentos catarinense começa a rever os paradigmas.
É o que mostra Espírito de Porco, que estréia nesta quinta-feira no cineclube da Fundação Badesc, talvez o filme catarinense mais impactante dos últimos anos, que logo na abertura adverte que tem "cenas de sexo e violência". Selecionado por festivais e premiado por sua narrativa original politicamente incorreta, e com o forte sotaque dos colonos do oeste, o filme fala sem rodeios da enorme quantidade de poluição que a criação industrial de alimentos joga nos rios, e critica a estupidez de alguns por não aproveitar o potencial dos dejetos para a produção de gás, por causa da burocracia dos órgãos públicos. E defende a espécie suína de todas as difamações que os humanos lhe imputam ao longo de séculos, contrariando o nosso senso comum que diz que tudo o que é ruim é "coisa de porco".
O protagonista do filme é um suíno, já morto, que narra a sua vida no oeste catarinense e mostra coisas sobre as quais certamente muitos executivos das grandes empresas de alimentos vão pensar. Resignado com a sua condição de ser alimento para a humanidade, o porco não quer que as pessoas parem de comer salsichas ou costelinhas. Simplesmente quer que parem de culpá-lo por toda a "merda" que acontece por aí.
Chico Faganello

Um comentário:

Lícia disse...

Outra marcante característica da atividade é a concentração: nos anos 70 eram 65.000 suinocultores em SC, atualmente não são mais do que 10.000. A concentração é brutal. E a produtividade aumenta, ou seja, cada vez MENOS agricultores que produzem cada vez MAIS. Para onde vão essas famílias? Basta observar o crescimento das cidades, e dos seus problemas.
Esperamos que o documentário seja o alimentador dessa discussão, buscando outros olhares, outros pontos de vista.
Este é o nosso papel como realizadores e documentaristas, colocar o foco em questões que são deixadas de lado, e que nos mobilizam.
Este também é um dos resultados do Prêmio Cinemateca/FCC, que traz crítica e reflexão a produção audiovisual.
Que o Espírito nos ilumine!
abraços,
Lícia Brancher

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