quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Um conceito chamado suíno


Suíno na região Oeste de SC significa muito mais do que uma classificação zoológica. É quase um conceito, uma filosofia que define a vida das pessoas. Até mesmo o viajante mais desatento pode entendê-lo, sem muito esforço intelectual. Só precisa usar os sentidos. Sobretudo o olfato.
São milhões de cabeças produzindo milhares de toneladas diárias de dejetos que, mesmo quando tratados, ainda tem o meio-ambiente como destino final.

Embora exposto sem pudor em terras e águas catarinenses é no ar que o porco, através dos gases formados pelos dejetos, revela suas propriedades mais íntimas. Mistura de amônia, dióxido de carbono e ácido sulfídrico o cheiro é denso, pesado e tem propriedades físico-químicas desconhecidas pelo consumidor.

Mas o conceito suíno é extremamente amplo e vai além do cheiro azedo espalhado pelo ar. Ele determina não só as relações sociais e de trabalho, pautadas pela acumulação e distribuição de riquezas, mas também as de caráter mais íntimo, uma vez que estabelece e mantém vínculos afetivos.

O porco é um personagem fundamental no imenso palco do teatro imaginário local. É através dele que se criam diálogos, piadas, ironias e expressões que revelam sua presença também no inconsciente das pessoas. O porco é quase uma figura mitológica que vive uma interminável metamorfose. Um ser desconhecido, que tem o poder de se transformar em salames, torresmos e lombinhos para se incorporar aos homens e conduzir suas ações.

Personagem principal de uma atividade capaz de gerar milhares de empregos e injetar milhões na economia, a existência deste mito é marcada por outra metamorfose. Desta vez uma contradição. De sujeito produtor de história e fator de acumulação de capital, torna-se objeto de satisfação pessoal, quando empacotado e empilhado nas prateleiras dos supermercados.

Talvez sejam estas constantes metamorfoses e contradições que fazem do porco um acontecimento histórico e que poderiam imortalizá-lo num conceito, num construto teórico capaz de orientar a vida de toda uma região. Porco na psicanálise, no torresmo, no salame e na filosofia. Porco, fonte inesgotável de inspiração arquitetônica, de criação artística, de produção literária e cinematográfica.

O filme Espírito de Porco é uma narrativa que questiona as relações entre seres humanos e deles com outras espécies e com o meio-ambiente. É uma viagem à região Oeste de SC e ao universo subjetivo de homens e de animais.

E é para esta viagem que convidamos vocês.

Sejam bem-vindos ao filme do porco! Bem-vindos ao oeste catarinense onde poderão, sem pagar nenhum centavo pela entrada - quase numa brincadeira em alusão aos lucros gerados pela atividade - saborear de partes pouco conhecidas deste nobre, poderoso e delicado, mas pouco compreendido e tão difamado animal.

Ah ... e os questionamentos levantados pelo filme? E os danos ambientais provocados pela atividade? E a acumulação de dejetos? A suinocultura poderá se tornar uma atividade sustentável? O filme aponta alternativas para a produção de alimentos?

As respostas, assim como o cheiro, ainda estão no ar.

Nane

2 comentários:

Raffaela Faganello disse...

Nane ich finde den Text obercool!!!

Raffa

Anônimo disse...

Prima!

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